Relações entre pais e filhos: o que muda ao longo da vida

relações entre pais e filhos

Pode ter sido porque veio uma pandemia, ou porque foste mãe, ou porque enfrentaste algum desafio por que os teus pais também já passaram. Mas o mais certo é que, nesta fase da vida, tenhas dado por ti a pensar nos teus pais de forma diferente. Já não é o mesmo de quando eras uma criança ou recém-adulta. As relações entre pais e filhos também crescem.

Aos 30, mais coisa menos coisa, basicamente muda tudo. O apoio e/ou acompanhamento diário que os teus pais te dão é, em princípio, menor. É provável que não vivas com eles. Eles já não controlam o que te acontece (e portanto também já não os podes culpar).

É estranho, mas tu e os teus pais são adultos de repente. E embora nunca desapareça totalmente a dinâmica pais-filha, é diferente, não é? Cria-se uma espécie de igualdade. Com sorte, um dia os teus pais serão velhinhos e vais ter de tratar deles quase como se fossem crianças. Mas aos 30 estás a meio, a tua relação com os teus pais é talvez o mais de igual para igual que alguma vez foi ou será.

Como ter uma boa relação com os pais?

As relações entre pais e filhos nem sempre são fáceis. São carregadas de história, dramas familiares, expectativas e medos, co-habitação, heróis. Não estudei Freud, mas parecem os ingredientes perfeitos para o impacto ser gigantesco. Não quer dizer que toda a gente se dê mal com os pais. Mas dá-me ideia que há sempre algo que temos aceitar. Ou melhor, que precisamos de crescer para ver algumas coisas como elas são.

Muitas vezes, é na adolescência que deixamos de ver os nossos pais como heróis infalíveis. E é normal gerar-se alguma desilusão. Claro que os nossos pais são só seres humanos e quanto mais cedo aceitarmos isso, melhor. Depois, a vida vai-nos abrindo os olhos (se tudo correr bem) ou trazendo desgraças, ou ambos. E a relação ganha outra profundidade, outra riqueza.

Ter uma boa relação com os teus pais pode passar por algo tão simples como deixares de os culpar por tudo o que acontece na tua vida. A sério. Já chega.

There is an expiry date on blaming your parents for steering you in the wrong direction.

J. K. Rowling: Os Benefícios do Fracasso e a Importância da Imaginação

Relações entre pais e filhos: o que muda nesta fase da vida?

A quantidade de amigos e artigos que vi a queixarem-se de que os pais eram desobedientes das recomendações para a pandemia. Como se fossem eles os pais de adolescentes rebeldes! Tal como em tantas outras áreas da nossa vida, aos 30 estás num ponto de viragem da tua relação com os teus pais. A relação torna-se mais adulta e honesta.

Aqui fica uma lista das principais coisas que mudam na relação com os pais nesta fase da vida.

Passas a vê-los como pessoas, não apenas como pais

Já não são só a mamã e o papá (se é que alguma vez foram). Já têm personalidade jurídica. Têm direito a estar cansados, a querer não estar contigo, a esquecer-se de coisas importantes. Mas também é engraçado ver o que os emociona ou entusiasma. O que lhes dá mais prazer ou o que os frusta. Vês que eles são pessoas normais (wow), com defeitos e qualidades.

A vossa relação tem de ser alimentada

Claro que, em princípio, os teus pais vão continuar a querer saber como correu o teu dia, etc. Mas a relação já não tem a mesma dinâmica de quando eras criança. Estou numa fase em que aplaudo quando a minha filha faz cocó. Isso acaba, não é? Tal como qualquer outra relação da tua vida, tem de ser trabalhada. Tens de encontrar o tempo, tens de te interessar também pela vida que os teus pais têm. É o que é, mas é uma mudança.

Às vezes, os teus pais pedem-te conselhos ou ajuda

Uma ajudinha para instalar uma aplicação, fazer videochamadas, compras online. Quem nunca, hein? Mas também pedidos de opinião que parecem genuínos. A tua opinião agora tem um valor diferente. Já não és só filha. És também adulta, lá está. Uma adulta que os conhece, que quer o melhor para eles.

Começas a ver como és parecida com os teus pais

É provável que já tenhas dado por ti a dizer alguma frase que os teus pais também diziam. Ou a maneira como dizes alguma coisa. Outro dia estávamos a falar sobre isso no Instagram, seguem alguns exemplos:

  • Eu penso que tirei as espinhas todas, mas confirmem
  • Não se diz “hã”, diz-se o que foi?
  • Há meninos que não têm nada para comer
  • A mãe agora não pode

Oh my God. I’ve become my father. I’ve been trying so hard not to become my mother, I didn’t see this coming.

Rachel Green, Friends

Começas a preocupar-te tanto com eles como eles contigo

É o que eu digo, é mais ou menos de igual para igual. Vai lá ao médico ver isso. Não se esqueça de fazer o pagamento. OK, eles são só uns mortais que andam por aí. E agora? Às vezes, até cais no exagero e eles riem-se da inversão dos papéis. Agoras és tu que pregas uma descasca se não receberes uma mensagem quando eles chegam a casa. A ironia. A Alanis Morisette devia escrever uma música sobre isto.

Prestas atenção aos conselhos que te dão, mesmo quando não concordas

Ou seja, sabes valorizar o que significam mais anos de experiência. Já viste que os teus não sabem tudo, que também se enganam. E mesmo assim tens em conta os seus pontos de vista e conselhos, porque não deixam de ser adultos mais velhos, que te conhecem e que querem o melhor para ti.

Queres passar tempo com eles

A companhia dos teus pais deixa de ser uma obrigação ou uma imposição. Passas a ter tempo (leia-se, vontade) de estar com eles ao fim-de-semana ou nas férias. Talvez na passagem de ano. Queres ouvir as histórias da sua infância. Às vezes, apetece-te apenas ouvir a voz deles. É uma espécie de casa.

Sentes-te agradecida aos teus pais

Reconheces o que eles fizeram por ti, ou pelo menos reconheces que fizeram o melhor que podiam ou sabiam. Se fores mãe, é como se finalmente percebesses tudo.


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E tu? Como sentes que a tua relação com os teus pais tem evoluído?


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