Gostava muito de proporcionar momentos bons aos meus filhos. Tanto, que me questiono se teria de ser uma pessoa diferente para ser o tipo de mãe que gostava de ser.
Não digo “proporcionar momentos” no sentido mais “revista cor-de-rosa/tempo de qualidade é que é/#ópramimaproporcionarmomentos”.
O que eu quero dizer é que penso muito nisto. Brincamos e acompanhamos no dia-a-dia. Amamos. Mas há momentos em que compete aos pais escolher a que é que vão expor os filhos. Faz lembrar aquela frase que li algures:
O papel dos pais é darem asas e raízes aos filhos.
O tipo de mãe que gostava de ser
Eu gostava de ser daquelas mães que vai à praça. E que compra o peixe que depois se cozinha em família para o almoço. Só que eu nunca fui à praça em 30 anos. E tudo o que tenho feito no forno fica passado demais.
E gostava de ser daquelas mães que vai andar de bicicleta para o pé do rio. Apesar de não saber se ainda sei andar de bicicleta. Dizem que nunca se esquece, mas eu não sei se acredito.
Gostava de ser daquelas mães que os vai levar à natação. E que enquanto eles lá estão faz uma aulinha de aeróbica. Ou lá o que é que as mães fit fazem. Mas mesmo sem filhos era raro eu ir ao ginásio.
Gostava de fazer a rota dos castelos de Portugal e ir aos mercados e às feiras.
Gostava de ter as compras e as depilações todas despachadas. E deixar os fins-de-semana só para a brincadeira. Gostava de ler uma história ao deitar.
Gostava de ir à praia em Abril ou em Outubro. Se houvesse um daqueles fins-de-semana com sol a mais.
Gostava de ir a concertos de Natal. E comprar castanhas na rua, ver as iluminações. Mas só se forem mesmo natalícias e com cores. Se forem aquelas azul néon com símbolos neutros para não ofender ninguém, ficamos em casa. Fazer bolachinhas.
Gostava que houvesse música e que tentássemos tocar em conjunto.
Era giro jogar jogos de tabuleiro. E ter rituais tipo “sexta-feira à noite é noite de filme e pizza”.
Gostava de fazer tudo isso mas não sei se vou ter preguiça.
O que eu não gostava
O que eu não gostava era de passar fins-de-semana em centros comerciais. E que eles começassem a festejar o Halloween e o Dia dos Namorados.
Não gostava de ir para restaurantes e ter de lhes dar um tablet. Para poder acabar o risotto descansada.
Não quero dividir os fins-de-semana entre dezenas de festas de anos de miúdos em armazéns não-sei-onde. Por isso acho que vamos ter de ter restrições. Vão às festas dos melhores amigos, mas não têm de ir à da turma toda.
Não gostava que nos deitássemos tarde, acabando por desperdiçar a manhã ou sacrificar o sono. Não gostava que eles dissessem “pfff não tenho nada para fazer”.
Mundo ideal
No mundo ideal, estes momentos não ocorreriam apenas aos fins-de-semana. Teria a flexibilidade de casar o tempo com a intenção.
Enfim, isto é o que eu sinto agora. Quem sabe o tipo de mãe que vou querer daqui a uns tempos?
E a menina?