Ah dantes devia ser mais fácil, não era? No Natal ia-se à Missa do Galo, montava-se um presépio e havia o Bolo Rei no Dia de Reis.
Eu sou Católica. Desejo um Santo Natal às pessoas quando me cruzo com elas em meados de Dezembro. E vou à missa, se não à Missa do Galo, tentamos ir no dia 25 de manhã ou na tarde do 24, conforme os programas familiares.
Mas também sou afectada pelas outras dimensões não tão natalícias do Natal. Juntando a força das marcas que têm coisas para vender a esta onda politicamente correcta de não mencionar nada que possa ofender alguém nunca, é fácil passar o Advento sem pensar em Jesus.
É fácil cantar o Jingle Bells e o Rudolph e a última da Popota. E andar a enfardar calendários (do Advento) de chocolate. E ir às compras e à Black Friday e estoirar o subsídio de Natal em scones e sombras brilhantes e camisolas de cashemira. É fácil acreditar que eu mereço.
Também é fácil dizer que é a festa da família. E é, também. Mas não nesse sentido de ir comer o bacalhau da minha mãe e ver o Sozinho em Casa com a manta e ir sair à noite no dia 25 a usar os kits que o Pai Natal trouxe e um dos tios se mascarar de Pai Natal e os mais pequenos ficarem quase bêbados com a quantidade de embrulhos.
E comprar doces e cabazes e planear dietas a partir de dia 2 de Janeiro.
E eu faço tudo isto.
E às vezes vou à missa e lembro-me que o Natal para mim não pode ser só isso. Os nossos costumes e a nossa época fazem parte da maneira como vivemos o Natal. Não tem mal comprar etiquetas na Tiger ou escolher o vestido de veludo que quero usar logo à noite. Mas não pode ser só isso. Tem de ser muito mais que isso.
As frases que estou habituada a ouvir desde criança sobre deixar Jesus nascer nos nossos corações têm de ganhar um sentido.
Talvez isso também não esteja certo, mas sinto que meu papel não é andar para aí a evangelizar os outros. Ou por outra, sinto que a melhor evangelização que posso fazer é com exemplo, e não com palavras. Tento não ser aquela pessoa que recebe um “Boas Festas” e faz um ar sério e quase corrige atirando um “Santo Natal”. Mas para mim, o Natal é Santo.
Conclusão
Não recorras ao que já sabes do Natal,
mas coloca-te à espera
daquilo que de repente em teu coração
se pode revelar
Não reduzas o Natal ao enredo dos símbolos
tornando-o um fragmento trémulo sem lugar
no concreto da vida
Não repitas apenas as frases que te sentes obrigado a dizer
como se o Natal devesse preencher um vazio
em vez de o desocultar
Não confundas os embrulhos com o dom
nem a acumulação de coisas com a possibilidade da festa:
o que recebes de graça
só gratuitamente poderás partilhar
Cuida do exterior sabendo que ele é verdadeiro
quando movido por uma alegria que vem de dentro
Uma só coisa merece ser buscada e celebrada, uma só:
o despertar de uma Presença no fundo da alma
Por isso o Natal que é teu não te pertence
Só a outro o poderás pedir.
José Tolentino Mendonça
Santo Natal!