“Melhores filmes dos anos 90” é uma categoria muito especial para a minha geração. Éramos crianças e/ou adolescentes, os canais de televisão faziam maratona de filmes ao Sábado à tarde, havia as cassetes de VHS e clubes de vídeo em cada bairro. Os filmes ficavam na moda durante anos.
Visto com o filtro dos anos 2020s, parece que a vida tinha mais momentos de tédio, mas também menos excesso de opções de entretenimento, ou seja, de certa maneira, mais liberdade. A verdade é que víamos e revíamos os filmes que nos diziam alguma coisa. Conjugávamos o verbo “rebobinar”.
E ligando isso à nostalgia que todos vamos tendo pelos anos 90 e pelas nossas infâncias, já se percebe que vai ser uma viagem intensa. Mas que, por isso mesmo, vale a pena. É capaz de até fazer bem à tua saúde.
Os melhores filmes dos anos 90
Primeiro, um aviso: esta lista é pessoal, reflecte não só o meu gosto, mas a forma como senti estes filmes quando os vi, algures pelos anos 90. Não são indiferentes as circunstâncias em que uma obra chega até nós. Estes são filmes que eu vi e revi e cujos DVDs comprei nostalgicamente anos mais tarde, para continuar a ver e rever.
Aqui fica uma lista dos melhores filmes dos anos 90.
1. O Pai da Noiva – 1991
Quando a filha regressa de um curso em Roma e diz que está noiva, o Pai entra em parafuso. Com Steve Martin, Martin Short e Diane Keaton. Preciso de continuar? Este filme faz-me sentir coisas e faz-me sentir coisas parecidas mas diferentes ao longo dos anos. Cresceu comigo e continua bom. E tem também casas de sonho na Califórnia (ou não fosse um filme da Nancy Meyers), comédia (halooo Franck!), um casamento em que a noiva entra ao som do Pachelbel Canon, uma família que se adora, instrumentais que me fazem chorar. É sobre deixar ir quem amamos e sobre envelhecer e sobre como organizar um casamento, tudo ao mesmo tempo.
2. You’ve Got Mail – 1998
Este filme é tão querido e tão Nora Ephron. É a história de duas pessoas à procura de algo mais para as suas vidas, que trocam emails anonimanente (tãooo romântico), sem saberem que são rivais na vida real. É sobre livrarias, o Upper West Side de Manhattan e sobre saber que há uma vida qualquer maior que podia ser nossa, mas não saber qual é. Como quando a Meg Ryan acaba com o namorado e ele pergunta “Is there someone else?”, e ela responde “No. But there is the idea of someone else”. Tão bonito e verdadeiro.
Sometimes I wonder about my life. I lead a small life – well, valuable, but small – and sometimes I wonder, do I do it because I like it, or because I haven’t been brave? So much of what I see reminds me of something I read in a book, when shouldn’t it be the other way around?
Kathleen Kelly (Meg Ryan), You’ve Got Mail
3. Notting Hill – 1999
Eu não sei como seria este filme com outros actores, mas a Julia Roberts e o Hugh Grant fazem isto tão bem. Enchem o ecrã e têm o que se costuma designar de “química” apesar de não terem nada a ver. Como é que ele faz a bombazine parecer sexy? Até quase salvaram o “When You Say Nothing At All” de ser piroso. E houve mesmo momentos em que me rio sempre, como este do Hugh Grant a fingir que é um jornalista da revista Horse & Hound.
“I’m just a girl, standing in front of a boy, asking him to love her.”
4. Four Weddings and a Funeral – 1994
Os caracóis da Andie McDowell, que quase nem tem de fazer nada no filme para além de aparecer. As carinhas do Hugh Grant e o estilo desajeitado e querido. Os actores secundários todos, sem excepção. As relações, as personagens, que me pareciam adultas, porque não tinham aquele registo básico dos filmes americanos, eram mais reais, mais complexas, mesmo que fossem caricaturas. Tal como o humor, que fazia rir, sem ser aquela coisa óbvia, a piscar o olho.
E o poema do W. H. Auden, “Stop all the clocks”, que foi das primeiras coisas que me ocorreu quando a minha Avó morreu.
5. Clueless (As Meninas de Beverly Hills) – 1995
Vamos deixar de parte os comentários à tradução que fizeram do nome deste filme. Comecemos por onde interessa: isto é uma adaptação do “Emma”, da Jane Austen. A Amy Heckerling faz um trabalho incrível a traduzir do século XIX para um liceu no final do século XX uma menina privilegiada, convencida e sem noção mas por quem ainda assim torcemos. A Alicia Silverstone super credível, com um guarda-roupa maluco mas invejável (e até um programa de computador que combina peças de roupa). E o Paul Rudd, perfeito como sempre. Imensas piadas e referências. E o “As if!”, que ficou para a história.
6. 10 things I hate about you – 1999
Ah, Shakespeare. Outra adaptação muito inteligente (The Taming of the Shrew), o que só prova que material de qualidade é material de qualidade (desde que ninguém estrague). Eu queria ser a Kat, eu era a Kat, sem aquela silhueta magricela. Eu queria ler Sylvia Plath no alpendre. Eu queria atirar com a porta do cacifo se o dia me estivesse a correr mal, ter aulas de literatutra e marcar golos na equipa de futebol feminino. Eu queria ser a rebelde que se estava nas tintas para o que os outros pensavam dela e que escrevia poemas e que no fim sacava o Heath Ledger, rebelde, mas sensível e bom. Este filme também tem uma banda sonora apropriada (ainda ouço o “Cruel to Be Kind”) e tem o Joseph Gordon-Levitt, um daqueles carismáticos que é interessante a fazer o que seja.
7. My best friend’s wedding – 1997
Eu vi este filme e pareceu-me diferente. Refrescante no meio das comédias românticas que nasciam como cogumelos mas tinham menos fibra e eram açucaradas como o Tang. Só há pouco tempo é que descobri porquê. É como se eles testassem os personagens todos: quão ridículos podem ser para nós continuarmos a torcer por eles? A personagem da Julia Roberts tenta tudo para destruir o casamento eminente do seu melhor amigo e acaba o filme sozinha. Esta é a nossa heroína e apesar de tudo torcemos por ela. A Cameron Diaz desafina demais a fazer karaoke e o Rupert Everett rouba todas as cenas em que entra. E tem esta cena.
8. Little Women – 1994
Eu adorava esta versão do clássico da Louisa May Alcott. Eu adorava a Jo da Winona Ryder. Eu não era bem uma Jo, mas podia ser, com o calo no dedo de tanto escrever os seus manuscritos e a ambição. E quando elas cantam músicas de Natal? E aquelas laranjas. E o lábio de baixo da Claire Danes a tremer, a tremer. O filme também tinha o Christian Bale a fazer de Teddy tão bem, e o Gabriel Byrne que conseguia ser bem mais velho e bem mais contido e ainda assim percebia-se o que ela via nele. E qualquer coisa na criança que eu era queria que ela tivesse ficado com o Teddy, mas percebia que ela tinha ficado bem.
9. Before sunrise (Antes do Nascer do Sol) – 1995
Os meus primos olhavam para o ecrã e perguntavam “como é que consegues ver um filme em que não acontece nada?” E eu dizia só “shhhhhshhhh”, sem descolar o olhar. Estava a acontecer tudo ali. Não sabia que podia haver filmes assim, com tanta verdade. Pouca acção propriamente dita, mas tudo ali. E uma antecipação já da fantasia de conhecer alguém especial numa viagem de comboio pela Europa e passar uma noite em Viena, só a ter conversas profundas. A Julie Delpy incrível e o Ethan Hawke sexy apesar da barbicha, os dois credíveis. Nem sabia, mas tem 100% no Rotten Tomatoes e é das poucas vezes que estou alinhada com os críticos. Como é que um filme assim nos consegue tocar tanto?
E tu? Quais foram os melhores filmes dos anos 90 que te marcaram?
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1 comment
São clássicos do cinema, filmes imortais que apetece sempre ver novamente.
Excelente escolha!