Ah, o Natal. Uma das minhas alturas do ano preferidas. E que tanto nos marca ao longo da vida. Umas ligam mais, outra menos, mas é impossível escapar-lhe. Só que tudo muda. E aquilo que sentíamos no Natal quando éramos crianças não nos explica como viver o Natal quando crescemos.
Há muito que se perde. Mas há muito que se transforma e volta sob outros formatos.
Como viver o Natal: versão criança
Ah, ser criança. É tão bom e nós nem nos apercebemos. Não sei como eram os Natais da tua infância, mas quase que aposto que se tornaram a referência para o resto da tua vida. Talvez andasses de Norte a Sul do país, de casa em casa, a receber amor que nem percebias. Talvez o Natal fosse a altura do ano em que te sentias mais sozinha.
O Natal da minha infância era só conforto. Eu via a Leopoldina a cantar sobre o mundo encantado dos brinquedos, escrevia cartas ao Pai Natal, montava presépios e árvores de Natal, ouvia músicas em loop, comia sonhos, dividia-me entre casas de avós usando collants encarnadas e bandoletes de xadrez.
Não me interessava com o que comia, porque só comia entre momentos bem mais memoráveis, tais como embrulhar ou desembrulhar presentes ou ver filmes natalícios.
Quando chegou a idade, lembro-me distintamente de não querer acreditar que o Pai Natal não existia, mesmo quando as evidências se amontoavam. Mesmo quando os adultos se enganavam, os papéis de embrulho não disfarçavam e os rumores corriam na escola. Deixar de acreditar no Pai Natal foi mais do que pareceu, foi o fim de uma era em que perdi os meus olhos de criança sobre o mundo.
Como viver o Natal: versão pós-criança
A partir daí, o Natal, como tantas outras coisas, perdeu algum encanto. Eu continuava a gostar do Natal, era a minha festa preferida do ano. Mas alguma coisa, difícil de nomear, já não estava lá. Às vezes, quando se perde a ingenuidade, não se fica logo mais sábia, fica-se só mais mais cínica primeiro. Ou mais pragmática, o que tem as suas desvantagens.
Por exemplo:
- Passei a reparar e a passar mais tempo nas lojas cheias de gente e sob os ares condicionados pesados dos centros comerciais
- Comecei a contar as calorias e a repetir “este mês é um desastre para a dieta”
- Deixei de receber presentes que fossem verdadeiras surpresas…
- … Ou fiz aquele frete de ir dia 26 de Dezembro trocar coisas
- Comecei a ouvir músicas de Natal em noites difíceis de trabalho em Outubro e Novembro como “miminho”
- Troquei a Missa do Galo por horários mais “práticos”
Como viver o Natal depois dos 30
E agora, nos últimos tempos, parece que entrei noutra fase. Uma fase mais madura, mais tranquila. Aqui ficam algumas coisas que são diferentes no meu Natal agora, comparando com outros anos:
Prefiro menos, e melhores, presentes
Dantes, o que importava era o número de embrulhos. Quantos mais, melhor. Era entusiasmante só ver ou perceber que “ainda havia outro”. Os meus filhos estão nesta fase. Se um tiver um número de presentes inferior ao do outro, causa-lhes estranheza. Eles não sabem, nem querem saber, do preço ou da utilidade de cada coisa. Agora, seja qual for o preço, eu prefiro um presente de que goste mesmo do que um saco cheio de coisas.
Ligo mais à comida do que ao resto
Mais do que os presentes ou o que vou vestir, agora, o que eu estou realmente a pensar é “o que é que vou comer e beber?”. Ou, mais recentemente, “O que é que vou servir ou levar?”. Perco mais tempo a pensar em como montar a mesa do que em que brincos vou usar. E preocupo-me mais se alguém não gostar dos doces do que com que presentes cada um vai receber.
Penso mais no Natal dos outros do que no meu
Eu agora penso mais em como a minha família vai sentir o Natal do que eu própria. Também penso em mim, claro, não me tornei santa. Mas penso proporcionalmente mais em outras pessoas. Ser mãe faz muita diferença, claro. Muito do planeamento tem a ver com fazer os meus filhos sentir o conforto e a alegria que eu sentia em criança quando era Natal. E também gosto de dar presentes com significado e também gosto de receber a família em minha casa.
Como viver o Natal depois dos 30
Estou contente por ter passado pela minha fase cínica, porque crescer também não é só isso. Faz parte, mas se ficarmos por aí, há algo que se perde para sempre. Perde-se a fé. De certa forma, precisamos de voltar a ser crianças para saber que crescemos.
Alas! how dreary would be the world if there were no Santa Claus! It would be as dreary as if there were no Virginias. There would be no childlike faith then, no poetry, no romance to make tolerable this existence. We should have no enjoyment, except in sense and sight. The eternal light with which childhood fills the world would be extinguished.
Francis Church, “Yes, Virginia, there is a Santa Claus”
Talvez crescer seja isso mesmo: arranjar formas de continuar a acreditar no que não podemos provar, mas que não duvidamos que importa.
Feliz Natal!
E tu? Como mudaste a tua forma de viver o Natal depois dos 30?
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