Eu costumava odiar a manutenção porque achava que era demasiado tempo e demasiado dinheiro para ficar na mesma.
Entretanto, o tempo passou e a situação mudou. A manutenção passou a ser o esforço mínimo que preciso de fazer para não ficar a parecer um ogre com celulite. Ou seja, não só preciso de fazer qualquer coisa, como preciso de fazer cada vez mais coisas.
A manutenção e eu: it’s complicated
O melhor e mais sincero que li sobre o tema foi este ensaio da Nora Ephron sobre quanto custa tudo o que temos de fazer só para ficar na mesma.
There are two types of maintenance, of course. There’s Status Quo Maintenance—the things you have to do daily or weekly, just to stay more or less even. And then there’s the maintenance you have to do monthly or yearly or every couple of years or so—maintenance I think of as Pathetic Attempts to Turn Back the Clock.
Nora Ephron
Isto de que me queixo é da status quo maintenance. Da obrigação rotineira e crescente de me cansar a manter-me.
Só para verem o nível
Há duas semanas fui ao cabeleireiro e, depois da lavagem, a cabeleireira tirou a toalha e começou a mexer. “O que é que se passa?” disse ela, com um ar assustado. Eu expliquei-lhe que tinha tido um bebé e andava com queda de cabelo. Ela disse uma daquelas palavras que as cabeleireiras às vezes usam e que eu nunca entendo. Algo do género “isto está tudo escamado” ou “desgastado” ou “abastado”. O que ela queria dizer é que o meu coro cabeludo estava com péssimo aspecto. Aparentemente, andava a lavar o cabelo vezes de menos, com o champô errado e da forma errada. Ou seja, credo.
“Quando é assim, manda para trás”, disse a colega dela que passou por ali. E lá foi ela lavar-me também o cabelo. Depois, deu-me vários conselhos. Combinámos que na semana seguinte eu iria lá para fazer um peeling. Que era uma coisa rápida. Ela folgava às segundas-feiras. Talvez na 6a. OK. Então combinado.
Ainda não voltei lá. Está na minha to do list.
Mínimos olímpicos
Durante toda a adolescência, joguei voleibol. Treinávamos e jogávamos com uma t-shirt, calções de licra, meias até ao joelho e joalheiras. O meu maior medo era lesionar-me e que alguém me fosse ajudar e, ao baixar as meias, reparasse nos pelos das pernas. Sempre fui assim, só fazia a depilação se soubesse que ia estar com essa parte do corpo à vista. Ou seja, credo.
Isso era dantes, mas ao longo dos anos não melhorei muito. Usei toalhitas desmaquilhantes, para horror de todas as pessoas que me venderam maquilhagem, até há menos de um ano. Agora tenho uma “rotina de pele” que cumpro 60% das vezes. Mesmo assim, só lavo o cabelo quando está sujo. Só corto as unhas quando se começam partir. E só as pinto se alguém se casar.
A cereja no topo do bolo
Agora descobri que tinha cabelos brancos. Durante muito tempo tive apenas um. Teimoso e irritante, branco a brilhar no meio da minha cabeleira escura. Mas cortava-o e esquecia-me dele. Depois passaram a ser dois. Irritantes ainda, ali perto da zona do risco, aquela linha divisória dos cabelos, que tenho desde que a minha Avó o traçava com um pente fino.
E agora eles andam aqui. Às vezes reparo neles e fico deprimida. Sei que é algo a resolver. Mas não hoje.
There’s a reason why 40, 50, and 60 don’t look the way they used to, and it’s not because of feminism or better living through exercise. It’s because of hair dye.
Nora Ephron
Era só o que me faltava: ter de passar mais tempo no cabeleireiro.
Afinal é isto
No fim, só me resta esperar o mesmo que a Nora Ephron:
The only consolation I take in any of this is that when I’m very old and virtually unemployable, I will at least have something to do. Assuming, of course, that I haven’t spent all my money doing it.
Nora Ephron
Pensando bem, não me assusta a ideia de envelhecer. Aquilo de que eu tenho realmente medo é de ter de gastar mais tempo e dinheiro no cabeleireiro.
1 comment
E, contudo, há quem goste dos ditos cujos 🙂