Há coisas que toda a gente sobrevaloriza. Eu própria, que penso nisto o suficiente para fazer uma lista, acabo por cair nos mesmos preconceitos. Falamos delas com uma espécie de reverência. Não sabemos porquê mas acabamos sempre por cair no seu canto de sereia.
Segue uma lista não exaustiva de coisas que toda a gente sobrevaloriza.
1. O pôr-do-sol
Quando eu andava na faculdade tinha uma música no meu mp3 (I know, I know) que tinha um verso deste género: “I think I need a sunrise, I’m tired of the sunsets”. Uma metaforazinha, não é? Mas mesmo sem metáforas, vamos pensar sobre isso. O nascer do sol é muito mais subtil, menos espampanante. O pôr-do-sol é aquela conhecida que abusou do bronzeado artificial: alaranjada e pronta para a noite. É o efeito cliché: aparece em demasiados postais.
2. A Beyoncé
Quando pessoas dos EUA falam dela, é como se fosse realeza. Eu gosto dela desde as Destiny’s Child, because… early 2000s. E tem ar de ser tão focada e disciplinada e abana-se com um ar furioso-sensual como ninguém. Já pratiquei andar como ela à frente do espelho. (o truque, é que tem de se levantar os joelhos o máximo possível e imaginar que se tem um ex-namorado a tentar reconquistar-nos). (uma espécie de cavalo, com mais glitter). (acho eu). Esse é o poder. Sasha Fierce. Mas agora a sério. Espero não ser expulsa da Internet por dizer isto, mas é o trabalho discográfico que estamos a idolatrar? Ou é uma ideia?
3. Menus de degustação
Parece bom. Aliás, parece melhor. Se os senhores estiverem interessados, também temos o menu de degustação, diz o empregado com um ar solene enquanto avalia o nosso poder de compra. É mais caro. São mais pratos. Uns sete ou nove, geralmente em número ímpar. Mas depois acaba-se com fome e mais valia ter pedido os ravioli. E aquele pairing dos vinhos só significou que os primeiros eram mais uns aperitivos exóticos e os bons eram raros. E não me façam falar do mimo do chefe.
4. O conceito de felicidade
Ser feliz é sobrevalorizado. Provavelmente vou precisar de escrever mais sobre isto, para conseguir articular melhor o que penso. Não disparem, mas não acho que o sentido da vida seja sermos felizes. O sentido da vida tem de ser mais que nos, acho eu. E isso é causa de grandes descontentamentos e frustrações. Hei-de voltar a isto.
5. Pessoas loiras ou com olhos azuis
Por que é que as loiras são loiras e eu tenho cabelo castanho? E a quantidade de pessoas que eu nem conheço mas que tem esperança que o meu bebé venha a ter olhos claros. Pode ser que ainda mudem, dizem eles, quando se aproximam e constatam que estão a ficar acastanhados. Mas eu faço o mesmo. É 99% mais provável eu dizer que alguém tem uns olhos lindos se forem azuis.
6. Estar ocupado
Toda a gente sabe, mas toda a gente perpetua. Desculpa não ter dito nada mas não tenho parado. Mal tenho tempo para me coçar. Este fim-de-semana quase nem dormi. Ontem saí tardíssimo do trabalho. Estou A-TO-LA-DA. Glorificamos a busyness sem nos apercebermos que é uma doença. Deus nos proteja!
7. Coisas que aparecem na televisão
Uma apresentadora ou um jornalista que são best-sellers porque escrevem romances. Certos stickers com “as seen on TV” ou equivalente. Ai ontem disseram não sei quê no telejornal. Políticos que são comentadores. É tudo inflacionado, se me perguntarem.
8. “Podes ser o que quiseres”
Odeio esta frase. Sei que está na moda passar a mensagem de que todos podemos ser tudo. Mas acho uma ideia perigosa, para crianças e adultos. Só precisas de te esforçar! Bullshit. Temos limites. Há que aceitá-lo. Essa pseudo conversa optimista pode parecer ser reconfortante mas não nos ajuda a viver melhor. Ui, fui intensa. É que eu própria as vezes caio nesta. Aaaand we’re back.
9. Pequeno-almoço na cama
Parece romântico e decadente. Mas migalhas e falta de posição e se falta uma faca para a manteiga quem é que vai buscar? Mesmo com aqueles tabuleiros com pernas já não é o que era, ou então sou eu que estou a ficar velha. Na cama o que é da cama e na mesa o que é na mesa.