O meu pai faz 70 anos. 70 anos costumava ser considerado idoso na minha cabeça. 70 anos é idade de avô. E o meu pai está aí para as curvas. Gosta de viajar e de andar de bicicleta e vê ao longe melhor do que eu.
Mas o tempo passa e eu já não sou criança há muitos anos. E o meu pai efectivamente já é avô.
Quando fez 64 cantámos todos o When I’m Sixty Four dos Beatles. Aos 65 achávamos piada o meu pai já poder passar à frente na Loja do Cidadão. Parecia uma ideia tão ridícula alguém como o meu pai ter prioridade. E agora 70. E antes de adormecer pensei nisso e não me deu vontade de rir.
Ninguém gosta de pensar na morte. Mas às vezes faz falta.
Preferimos ignorar. Não queremos pensar, não estamos a ouvir. Tapamos as orelhas e “la-la-la-la”. Só que ela não deixa de existir. É como quando a minha filha põe as mãos à frente dos olhos e acha que está escondida. Quem não está a ver é ela. Só que nós já não somos bebés.
Os dias de anos têm ao menos esta grande vantagem. São um lembrete menos assustador do que um problema de saúde.
Espero que o meu pai viva muitos mais anos. Até aos bisnetos! Não imagino a minha vida sem ele. Mas não controlamos tudo. Não sabemos o dia de amanhã. E por isso é importante festejar. E aproveitar cada momento juntos.
O que eu quero dizer é que isto é tudo muito rápido.
O meu pai faz 70 anos.
O que eu quero dizer é que qualquer dia está a minha filha a dizer que eu tenho idade de avó.
O meu pai faz 70 anos.
O que eu quero dizer é que às vezes penso nisto e tenho medo. Mas ao menos às vezes penso. E sinto.
Parabéns, Pai.
2 comments
Só para dizer que li de fio a pavio o blog e adorei! Muitos parabéns! Parei exatamente neste post porque me diz muito… Um beijinho e continue a escrever assim 🙂
Muito obrigada, Lídia! Fico muito contente! Um grande beijinho