Marley e Eu: o melhor filme sobre o casamento com filhos?

Marley e eu

Marley e Eu, o livro do John Grogan, foi um dos casos em que comprei um livro pela capa. Estamos a falar de um labrador bebé adorável, um laço encarnado natalício e a descrição “New York Times bestseller”. Para mim, é suficiente. E também deve ter sido um dos primeiros livros de memórias (memoirs) que li e é agora um dos meus géneros preferidos.

Uns anos depois veio o filme, com a Jennifer Aniston e o Owen Wilson. Um bocadinho a puxar à lágrima para meu gosto, mas relativamente fiel ao livro e com carisma. E sim, o livro é melhor que o filme. Mas nunca mais voltei a ler Marley e Eu e já revi o filme várias vezes entretanto.

Há uns meses, revi-o, numa das minhas sessões de “soft cinema” enquanto amamentava. (“Soft cinema” é o nome que acabo de inventar para a visualização de filmes leves, porventura já vistos várias vezes, e que sei que me vão distrair sem me cansar. Outros exemplos nesta categoria: Julie and Julia, Sex and The City, Bridget Jones). O que achei curioso foi que, desta vez, o que me chamou a atenção foi a relação do casal. Dantes estimulavam-me mais outras partes, como a relação deles com os empregos, com os filhos ou com o cão.

Marley e Eu: disclaimer para intelectuais

Puristas e intelectuais, por favor não se zanguem comigo. Certamente que há obras de arte de maior, digamos, envergadura (e arte) que abordam este tema. Só que eu não as vi nos últimos 6 meses. Muito menos com o nível de hormonas pós-parto em alta com que vi Marley e Eu desta vez. E portanto, é o que temos, OK? Parafraseando o Nuno Markl, foi o que chegou à minha mesa de trabalho.

Contexto

Conhecem a história? Ele é um jornalista, ela também, namoram, casam, ela fala em ter filhos, ele assusta-se e compra um cachorro (o Marley), o cão acaba por se revelar “o pior cão do mundo”, têm filhos, mudam de empregos e de casa, etc. Ah, spoiler alert, o cão morre. Enfim, a vida.

A minha parte preferida do Marley e Eu

A minha parte preferida era sempre a montagem com as colunas que ele escrevia para o jornal na Flórida. Apelava a todos os meus desejos mais recorrentes: viver experiências, escrever sobre elas, aprender, estar exposta a coisas diferentes. Era quase um emprego de sonho, ainda que eu não quisesse ser jornalista.

Até que vi o filme entre sestas dos bebés e mamadas. Chorei quando o cão morre because hormonas. Só que chorei muito mais quando eles perdem um bebé no início da gravidez. E ainda mais na cena em que a Jenny (Jennifer Aniston) diz que vai deixar de trabalhar, porque se tiver de abdicar de alguma coisa, prefere ficar com os filhos e não ser daquelas mães que só está uma hora por dia com eles. Ouch.

E sobretudo na cena em que eles discutem. Ela está em casa com os dois filhos, um deles bebé de colo. O cão anda a correr que nem um louco a partir e roer tudo e a derrubar os miúdos. Ele entra e ela diz “quero o cão fora de casa. Acabou-se”. Uns dias depois arrepende-se e o cão volta.

Primeiro é fácil

Ser recém-casado é canja. Não tem nada que saber. É só curtir. E dizer “o meu marido” ou “a minha mulher” como se fosse uma piada. Ir jantar fora. Planear viagens e nomes teóricos para os hipotéticos futuros filhos. Ir aos casamentos dos amigos e ficar contente por o nosso já estar despachado e podermos comer, beber e falar só com quem nos apetece.

Depois vai ficando mais difícil

No caso deles, até a Jennifer Aniston fica com um ar menos fresco. Seja a rotina ou os filhos ou ambos, o cansaço aparece. Não tem de ser horrível. Aprende-se a lidar. Fala-se sobre os problemas e o que pode ajudar. Mas já não é aquela pura vida leve em que cada Sexta-feira parece o início de uma escapadinha. É um bocadinho mais pesado. Os bons e os maus momentos, as noites mal dormidas, as chatices no trabalho, a forma diferente de encarar as coisas, as dores de cabeça. Enfim, a vida.

Crise

Talvez crise seja uma palavra muito forte. No filme, ela está exausta e ele acha que também tem razões de queixa e eles têm uma discussão. Num momento de fúria, ela exige que o Marley saia de casa deles. Nós nunca tivemos um momento assim. Mas as dificuldades e desafios surgem. Há momentos de cansaço ou frustração em que dizemos coisas de que nos arrependemos.

Ter um filho testa um casal de muitas formas diferentes. Para já, todos dormem menos. Depois, há preocupações, ansiedades, hormonas à mistura. A isso junta-se o trabalho que um bebé, mesmo que bem comportado, dá. E as dúvidas quanto à forma de o criar (deixar chorar? Etc.). O casal também tem muito menos tempo a dois. É um desafio.

Sempre a melhorar

E depois tudo se acalma, embora a vida nunca seja mais fácil. Os bebés deixam-nos dormir. Escolhemos o emprego que faz mais sentido no nosso contexto. Abandonam-se os preconceitos que tínhamos nos nossos próprios sonhos. Ou sejam, tornamo-nos realistas. O que não é mau. Seria insustentável viver com os idealismos todos dos 20s para a vida toda.

E um casal que queira e consiga ter filhos sai fortalecido, se aprender a lidar com os tais desafios. Porque passa a ser muito mais do que só os dois.

Enfim, a vida.

E agora um aparte

Estava eu a dar uma olhadela à Wikipedia para ver se não me tinha esquecido de nada relevante sobre o filme e encontro esta pérola:

Although she denies she is experiencing postpartum depression, Jenny exhibits all the symptoms, including a growing impatience with Marley and John, who asks Sebastian to care for the dog when Jenny insists they give him away.

Wikipedia de Marley & Me (film)

Mas o que é isto, Wikipedia? Quem é que escreve isto? Um homem? Um cão? E mesmo assim, que raio de contextualização é esta? Dêem uma oportunidade à Jenny.

Só para deixar aqui o meu humilde contraditório, a personagem da Jennifer Aniston não é a vilã deprimida. Até podia estar deprimida e continuava a não ser vilã. É, naquele momento, uma recém-mãe de dois e eu estou solidária. Nem me parece que esteja deprimida, muito menos que exiba “todos os sinais” de uma depressão pós-parto, que é um fenómeno complexo e grave. Ela está só provavelmente muito cansada. E sente-se sozinha. E o cão não ajuda, certo? Imagino-me em casa com os dois bebés e um labrador gigante indisciplinado e garanto que o cão não voltava. É melhor pensarmos bem em quem é que está impaciente. Ela é só uma recém-mãe de dois. OK?


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E tu? Qual a tua parte preferida deste filme?


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